sábado, 2 de maio de 2009

Assimetria de Infornação

É comum, em dias de crise, perguntarmo-nos se nossas ações passadas foram corretas. Dúvidas quanto ao curso que fizemos na faculdade, à cidade que decidimos morar, à pessoa com quem nos casamos, ao carro que escolhemos ou ao apartamento em que vivemos vêm à tona. Entretanto, assuntos pessoais a parte, o nosso sistema financeiro é o que mais nos aflige atualmente.

O que deixou de ser raridade encontrarmos em revistas e web sites contemporâneos são artigos criticando e questionando ferrenhamente o atual sistema capitalista neoliberal. “Milton Friedman era um mentiroso”, li uma vez. Contudo, é claro que essa afirmação foi feita por alguém que não conhece as bases do trabalho de Friedman, no caso um colunista de uma conceituada revista semanal brasileira. O pai do neoliberalismo deixou claro, até o seu falecimento em 2006, que uma das principais armas contra a eficiência do sistema era a “Assimetria de Informação”. Esse assunto é pobremente estudado e recebe uma atenção desproporcional ao seu papel na economia. Essa teoria responde muitas perguntas que possamos ter hoje como o porquê dessa crise ter pegado a todos de surpresa ou o porquê de bancos com grande valor moral e profissional estarem quebrando.

“Assimetria de Informação”, no sentido mais óbvio dessa expressão, é um dos tabus do capitalismo neoliberal em que informações que influenciam o mercado não estão distribuídas igualmente entre os participantes do mesmo. Através desse conceito, podemos estender as perguntas acima. A nova dúvida é se existiam pessoas que detinham conhecimento dessa crise antes dela ser notória ao público; e a resposta é “sim”. Muitos agentes do mercado estavam cientes da ineficiência que enfrentávamos muito antes desses resultados catastróficos começarem a surgir. Corrupção, desvio de dinheiro e bônus milionários a CEO’s de empresas camufladamente falidas são alguns exemplos de erros do sistema que ocorrem tanto no setor público quanto no privado.

Muitas grandes empresas, talvez apoiadas pelo governo, não expuseram ao público investidor o caos interno que elas enfrentavam, motivadas, muito provavelmente, pela ganância de poucos. Um evento que aconteceu no meio do ano passado serve como exemplo pessoal. Em meu primeiro mês como universitário nos EUA, precisei abrir uma conta no banco. Seduzido pelo status de “maior banco do sudeste dos EUA” do Wachovia, decidi iniciar um negócio com o mesmo, contudo, menos de dois meses depois já me encontrava arrependido: o grupo estava quebrado e acabou sendo vendido. Esse foi um caso claro de assimetria de informação em que eu, o investidor, não tive acesso aos problemas administrativos e financeiros com os quais o Wachovia estava lidando. Obviamente, se eu detivesse conhecimento dessas falhas antes, teria aberto assinado um contrato com outro banco.

Portanto, percebemos que o buraco só está tão fundo por que investimos cegamente por muito tempo. O mais lamentável, entretanto, é vermos que muito se falta para acabarmos com essa falha. Observamos o presidente Obama, por exemplo, mandar grandes quantias de dinheiro para assistir o setor automobilístico americano mesmo sem esse levantar um relatório sobre para onde o dinheiro está indo, enquanto, no Brasil, o presidente Lula tenta levantar o nosso otimismo sem apresentar números concretos. Sem confiança na palavra pública, as pessoas não fornecerão seu dinheiro ao mercado tão cedo.

Deveria ser papel principal do governo, este como responsável pela saúde econômica, de minimizar a assimetria de informação. Através disso seremos capazes de atuar em um mercado em que todos os agentes estão trabalhando em prol do beneficio mútuo maior, levando em conta que todos possuem informações completas sobre todos os outros agentes. Resumidamente, caso a informação seja distribuída de maneira justa, pessoas somente investirão em empresas que se mostrarem dignas de confiança e empresas trabalharão arduamente para receber este honrável status. E esse é o único caso em que o governo deve intervir na economia: fiscalizar todas as empresas de modo que cada uma esteja sendo honesta em seus desempenhos.

A demanda por esse amparo aos valores morais do capitalismo é imediata. O sistema que nos permitiu acumular tanta riqueza que agora nos dá ao luxo de sentirmos a crise em muito menores proporções do que quando sentimos em 1929. É necessária, contudo, a ação firme do Estado. Obama, como grande adepto keynesiano, deve tomar as medidas morais necessárias para que nunca mais precisemos enfrentar uma crise como esta. A ganância e vontade de prosperar devem sempre andar ao lado de valores como respeito e honestidade de modo que o capitalismo seja desfrutado da maneira mais saudável e eficiente possível. Espero que, em um futuro muito próximo, não precisemos classificar o nosso sistema atual como “capitalismo utópico”.